Grande Loja dos Jardineiros Livres do Brasil

Saiba mais

INTERNATIONAL ORDER OF FREE GARDENERS

OS JARDINEIROS DO TEMPLO: O ANTECEDENTE DA MAÇONARIA ECOLÓGICA

De acordo com relatos históricos, foi Davi quem unificou as 12 tribos de Israel e escolheu o Monte Moriá, em Jerusalém, para abrigar a Arca da Aliança. Contudo, foi seu sábio e ambicioso filho, Salomão, quem efetivamente construiu o templo que leva seu nome. No Santo dos Santos, espaço mais sagrado do templo, ficava a Arca, acessível somente ao Sumo Sacerdote uma vez ao ano, no Dia da Expiação, levando incenso, ramos de louro e oliveira, e o sangue de um cabrito sacrificado. Este templo, concluído por volta de 957 a.C., foi saqueado e destruído pelo rei caldeu Nabucodonosor II por volta do ano 587 a.C. Hoje, apenas uma romã de marfim e uma tabuleta de pedra testemunham sua existência, sendo os demais objetos levados pelos judeus deportados para a Babilônia. Curiosamente, nesse mesmo período histórico, Nabucodonosor II construiu no deserto, para sua esposa Amytis, uma das sete maravilhas do mundo antigo: os Jardins Suspensos da Babilônia. Nas regiões áridas da Babilônia e de Israel, a presença de jardins era limitada a locais privilegiados como oásis ou margens de rios. Embora não haja registros escritos sobre jardins no Templo de Salomão, sabe-se que plantas e jardins são essenciais à vida humana, servindo tanto como fonte alimentar quanto como ornamento. Não surpreende, portanto, que a única evidência física remanescente do templo salomônico seja justamente uma romã, fruta valorizada desde a antiguidade por suas propriedades. Foi talvez esse simbolismo que inspirou, na Escócia do século XVII, os membros da Ordem dos Antigos Jardineiros Livres (Ancient Free Gardeners) a estabelecerem, como ápice de sua fraternidade, a lenda do terceiro grau: o Grande Mestre Jardineiro. No seu ritual, Salomão era considerado o maior especialista no cultivo de plantas, as quais adornavam entradas, paredes, jardins e pomares do Primeiro Templo de Jerusalém. Esses Jardineiros Livres defendiam que, se os maçons haviam construído o templo, eles haviam sido responsáveis por finalizá-lo e decorá-lo, fornecendo mananciais, sementes e tudo o necessário para sustentar e enriquecer os rituais ali realizados. Os dois primeiros graus da Ordem dos Jardineiros também remetem a aspectos bíblicos. O primeiro grau aborda a criação do Jardim do Éden, tendo Deus como primeiro jardineiro, e Adão como seu aprendiz: “E o Senhor Deus plantou um jardim no Éden e colocou ali o homem que havia formado” (Gênesis 2:8). No segundo grau, Noé é apresentado como o segundo jardineiro. Conhecido como o Artesão, após o dilúvio ele garante a sobrevivência humana por meio de seu conhecimento agrícola. Este grau percorre diversos jardins bíblicos, culminando no Jardim do Getsêmani, o jardim da Paixão de Cristo. Getsêmani não era um jardim de prazer, mas o local onde se prensavam as azeitonas para extrair óleo, simbolizando a agonia e a entrega de Jesus: “No lugar onde Jesus foi crucificado, havia um jardim, e nele um sepulcro novo” (João 19:41). Maria Madalena, ao procurar Jesus na manhã da ressurreição, inicialmente não o reconhece, confundindo-o com um jardineiro, revelando um simbolismo profundo de renascimento e vida renovada. Assim, a história da salvação humana começa e termina num jardim, envolvendo o Paraíso, a Agonia e a Ressurreição. Ao longo da história, os jardins refletiram culturas, resumiram épocas e habitam o imaginário coletivo. Contudo, as verdadeiras protagonistas, pouco mencionadas, são as plantas. Flores e árvores como rosas, azucenas, lótus, figueiras, carvalhos e oliveiras fazem parte essencial de ritos iniciáticos, pois são seres vivos inteligentes, capazes de captar luz solar e convertê-la em energia vital, liberando oxigênio e mantendo o equilíbrio ecológico. A Antiga Ordem dos Jardineiros Livres da Escócia enriqueceu a cultura maçônica com elementos simbólicos como a tesoura de poda, que representa o corte de vícios e a propagação de virtudes. Fundada em 1604, anterior à própria maçonaria especulativa (1717), essa ordem chegou a ter grande expansão, formando logias em diversos países. Embora muitas tenham desaparecido após as guerras mundiais, algumas persistem, como guardiãs de antigos segredos. Os aventais usados pelos jardineiros variavam de grandes a pequenos, semelhantes aos atuais aventais maçônicos. Ferramentas como pá, regador, carretilha e rastelo constituem as joias das suas dignidades, cada uma carregada de simbolismo. A maçonaria tradicional pode defender a pureza de suas doutrinas, mas a maçonaria evolutiva certamente incorpora com sabedoria elementos da jardinagem iniciática, como fez com diversas tradições esotéricas ao longo da história. Para os humanos, o contato com a natureza é vital. Os jardins surgem como ambientes que atendem tanto necessidades biológicas quanto espirituais. Esta conexão profunda é expressão da biofilia, o amor à vida, onde o homem compreende que faz parte da natureza, respeitando-a como respeito a si próprio. As plantas, com sua ancestralidade e inteligência, têm muito a ensinar. Jardins são, portanto, o espaço onde podemos aprender com elas e crescer, harmonizando a vida espiritual, ecológica e maçônica.

Por Marcelo Villacis Molina